Archive for fevereiro, 2004
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Chuva de Ouro
Abre para mim teus braços verdes, delicada bailarina dourada, exibe com meticuloso esmero as rendas amarelas da tua beleza. Aquela mesma renda com que me presenteastes antes, quando eu não sabia ainda que num apartamento coubesse esta imensidão de céu, ou tamanha multiplicidade de luzes.
Dança para mim, beldade, a tua elegante e estática dança da expansão dos ramos. Sei que não podes dar-me a resposta oracular da tua humilde prima Margarida; mas podes oferecer o consolo altivo da tua lindeza iluminada a ouro, quando ele mal-me-quer, ou pintar de gotas de sol toda a sala, quando ele bem-me-quer.
O mais angustiante, florzinha, é que nem eu nem tu temos maneira de determinar o que vai ser.
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A Contadora de Histórias
Queridos amigos da princesa Badoura e dos príncipes Alnasher e Danhash, agora a casa deles fica no blog A Contadora de Histórias, link na coluna da esquerda.
Os posts antigos já estão lá, assim que der continuo a história, talvez ainda hoje…
Fiquem à vontade na casa nova!
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Convite
LES AMANTS – MagritteA aproximação amorosa é uma coisa complicada para homens e mulheres, principalmente quando ocorre em uma idade em que, na teoria, já deveríamos estar tranquilos ao lado de nosso companheiro de viagem, nutrindo a vida em comum, auxiliando os filhos a crescer. Acontece que existem hoje muitas e muitas pessoas que buscaram sem encontrar, neste mundo cada dia mais louco e sem amor, este caminho que leva à pessoa amada, e só encontraram estranhos cobertos por véus.
As vontades de ficar e de fugir se enfrentam como Jacó e o Anjo: algumas vezes fugimos e tempos depois, arrependidos, ponderamos se devíamos ter ficado; outras vezes ficamos e descobrimos logo adiante que teria sido melhor fugir. Nessa ingrata coreografia, bailamos todos os que procuram.
Mas eis que chega um novo estranho, e bate o coração apressado, com vontade e medo de descobrir o mistério por baixo dos véus. Eu, borboleta temerária e audaciosa que sou, acabei de parar de bailar. Com suavidade, tomo sua mão e coloco mansamente entre seus dedos a ponta de meu véu…
– Puxa.
For All We Know – The Carpenters
Love, look at the two of us
Strangers in many ways
We’ve got a lifetime to share
So much to say and as we go on from day to day
I’ll feel you close to me
But time alone will tell
Let’s take a lifetime to say
I knew you well
For only time will tell us so
And love may grow for all we knowPelo tanto que sabemos – The Carpenters
Amor, olha para nós dois
Desconhecidos de tantos modos
Temos uma vida inteira para compartilhar
Tanto a dizer e na passagem do dia a dia
Eu o sentirei próximo a mim
Mas só o tempo dirá
Vamos levar a vida toda para dizer
Eu te conhecia bem
Pois apenas o tempo nos dirá
E o amor pode crescer, pelo tanto que sabemosGostaria de apresentar aos leitores do Asa a linda leitura do talentoso Luís Miscow deste mesmo quadro. Passeiem pelo blog deste talentoso rapaz, todos vão sair lucrando com isto.
LES AMANTS
Dois amantes afastados
no ato contínuo de amar;
com suas bocas
– desejos
aproximados sem tocar.
Serão passado
ou projeto
que o tempo ainda vai juntar.
Será mordaça que os cala
ou mero medo
que os enfrenta
eternamente a afastar.Dois amantes que se beijam
sem no entanto se beijar. -
Ainda o Outonos
Bem, vocês já sabem que o Outonos está de volta. Alguns podem não saber, no entanto, que eu não estava tendo acesso ao site pelo meu computador DE JEITO NENHUM, nem mesmo pelo navegador Mozilla. Foram dias de intensa irritação, pedindo a amigos que copiassem e colassem os comentários num documento do Word para que eu pudesse ao menos ler as belas palavras de estímulo dos amigos. Responder nem pensar.
Fiquei dependente de achar um computador vago nos laboratórios da Universidade para poder ler e comentar o meu próprio site! Até que, hoje, uma amiga blogueira do Rio Grande do Sul — a querida Dani — me deu uma pequena dica que resolveu o problema.
Bastava, disse ela, que eu digitasse o símbolo de “sustenido” — o famoso “jogo da velha” do teclado — depois de digitar o endereço do site. Lá fui eu:
http://www.outonos.com/#
E não é que funcionou?
Pois agora, além da lista de sites que funcionam como “proxy servers”, que está no blog Agonizando do Evandro, existe também esta opção meio mágica para tentar acessar o site e o novo blog Jardim de Alhures. Nem tudo está perdido.
E podem aguardar que tem mais novidade chegando no Outonos.
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Flamenco
(Ele a rodeia) Olá.
(Ela enviesa o olhar) Quem és?
(Segurando a casaca) Eu sou!
(Abanando o leque) Será?
(Batendo os calcanhares) Vem cá.
(Sacudindo a saia) Não vou.
(Empinando os ombros) Porque?
(Batendo a castanhola) Não sei.
(Chegando perto) Tens fome.
(Afastando-se devagar) Tu também.
(Sapateando forte) Sou velho.
(Rodando rápido) Não és!
(Arqueando os braços) És jovem.
(Rodopiando) Não sou!
(Sedutor) E que tem a idade?
(Sedutora) Nada tem…
(Encostando) E porque falamos nisso?
(Pousada em seu ombro) No que?
(Virando-lhe o rosto) Quero beijar.
(Rodando veloz) Vem me buscar.
(Mais sapateado) Vou já!
(Mais castanhola) Mas já!
(Mais calcanhares) E se não for já?
(Girando os pulsos) Amanhã é tarde demais.
(Agarra-lhe a cintura) Então é já!
(Encosta-se nele) Já… -
Outonos
Pois é. Voltamos. Houve momentos em que eu pensei que isto não aconteceria. Houve momentos em que duvidei jamais ser capaz de escrever uma única palavra. Mas a graça dos momentos é justamente que eles passam. então estes momentos de dúvida, de dor e de branco passaram.
O que nunca passou foi a firme convicção que minha parceria com o Evandro foi feita no Céu, isso nunca. Evandro é uma pessoa como eu nunca conheci antes, um jovem — com cara e hábitos de jovem, com sua menina Henrie sempre coladinha a ele — com um olhar manso e sábio. Ponderado. Amigo como poucos. Companheiro para tudo e para qualquer hora. Cavalheiro de nobre estirpe, bem educado, cortês. Eu já disse a ele mais de uma vez que ele não existe. Fico mesmo convencida de que ele não passa de um delírio meu.
Mas aí ele solta a risada alegre dele e me mostra fotos das cadelinhas fofas que moram em Brasília com seus pais — as famosas Repolhudas — e vai para cozinha fritar um bife delicioso para acompanhar a massa que fiz, e me chama para jogar Worms com ele. E então eu vejo que é tudo forte, real, colorido e muito, muito bom.
E ele escreve um texto que fala de folhas que são levadas pelo vento até a curva dos tempos, e eu me convenço que tendo ele como parceiro eu enfrento qualquer inverno. Observando o sorriso quieto da linda menina Henrie por trás do sorriso mais aberto de meu amigo, eu vejo a força que têm o amor e a amizade. “Do amor não se foge”, disse meu amigo em seu blog Agonizando, e eu completo, “nem da amizade, nem do trabalho por fazer”.
Juntos, nós conseguimos.
Ara, vortemo, uai!
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Luto
Este blog e a sua autora estão profundamente tristes de participar aos leitores o falecimento do pai de um grande amigo. Visito o blog deste amigo todos os dias, algumas vezes mais de uma vez por dia, apesar de saber que ele tem postado pouco e de maneira irregular.
Hoje, há uma tarja preta lá. A noite desceu novamente. Mas a paz volta, Dennito, e eu não gostaria de privar seu pai mais tempo da companheira de tantos anos. Ele não quis ficar sem ela, e eu não o culpo.
Todos aqueles que gostam de você estão sofrendo junto. Mas eu insisto, querido, que falta pouco para o amanhecer.
Força. Amo você.
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Mea Culpa
No Nevoeiro
© 2004 – Rui Vale de SousaDeus do Céu, esta eu não podia ter feito. Mas eu fiz. Eu esqueci o aniversário de uma das pessoas que mais me importam no mundo. Eu ESQUECI, Dennito! Dormi tarde dia 01, acordei cedo dia 02, peguei ônibus para o Rio, cheguei no meio da tarde já brigando com o banco, voei para a reunião de coordenação na faculdade, cheguei em casa às dez da noite, e simplesmente esqueci!
Lembrei deste aniversário especial o mês de janeiro inteiro, virou fevereiro e ele voou da minha cabeça! Que posso fazer para compensar esta falha, querido? Pago uma prenda? Faço penitência (não ria, amiga do Renan! É sério isto aqui!)? Me jogo do décimo andar? Como diria o menino especial, bosta frita! Desculpa, desculpa, desculpa!
Meu amigo, há muitos presentes que gostaria de dar, e estão acima das minhas possibilidades. Queria transformar este nevoeiro que o cerca em um dia de sol de primavera. Não posso, não posso, Dennito, mas queria. Queria transformar cada morte em nascimento, queria – com minha presença ou com minha ausência, o que te fizesse mais bem – adoçar sua vida e acalmar seu coração. Está tudo fora de minhas mãos, Dennis, não depende de mim, e esta é a dor mais doída de todas.
Mesmo assim, vou desejar com FORÇA, feliz aniversário, meu amigo. Há de ser feliz, há de ser feliz, este ano que inicia. E no próximo dia dois de fevereiro o nevoeiro há de ter-se dissipado.
Todo o amor, da sua amiga de sempre
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A Borboleta e o GatoUma casa tinha um jardim. Não era uma casa comum, era grande, cor de capuccino e cheia de avanços e reentrâncias, como se a casa fosse uma lagarta dourada que rebolasse numa cama de veludo verde. O jardim era este veludo verde, salpicado de canteiros de flores e com um jasmineiro crescendo sobre uma treliça de madeira.
Na casa morava um gato angorá, sinuoso como a sua habitação, peludo e negro, brilhante como a prata recém-lustrada. Quando ele andava, seu rabo era o empinado estandarte a noite, e quem o visse tinha imediatamente vontade de enfiar os dedos em seus pêlos e senti-los afundar e sumir naquela maciez sedosa. Era, como todos os gatos, solene e eternamente consciente de sua dignidade, mas capaz de explodir no movimento e na brincadeira que prometia o brilho maroto do seu olhar.
Havia também uma borboleta que habitava as touceiras de flores do jardim. Ela conhecia bem este jardim, e voava por todo ele visitando cada pequeno botão. Era uma borboleta que amava cores, e frequentemente pousava no topo da treliça do jasmineiro e voltava seus olhos muito abertos para o jardim, absorvendo o verde claro e vivo das folhas novas, o rosa-suave do miolo do jasmim branco, o amarelo vivo dos narcisos, o vermelho intenso das gérberas, o verde escuro e denso das cercas-vivas.
Ela conhecia todas as nuances de todas as cores, mas nunca havia encontrado algo negro. Nem mesmo à noite, pois ela então fechava os olhos e sonhava com o sol. Até que, um dia, o gato saiu de casa e deitou-se no gramado para seu banho de sol. A borboleta, fascinada por aquela criatura tão diferente, aproximou-se voando para investigar.
“Ele é aveludado como as folhas da violeta”, pensou ela, “e brilhante como os reflexos do sol na gota d’água, mas parece feito de sombra… como pode ser, uma sombra que reflete luz?” Assombrada, dirigiu-se àquela prodigio criatura:
– Você é feito de luz ou de sombra?
– De ambos — respondeu o gato, igualmente assombrado — e de que é feita você, que me parece o céu visto através de uma bolha de sabão?
– Não tenho certeza, mas acho que sou feita de flores, de céu e de sonho.
– Eu perdi contato com meus sonhos — comentou o gato, chicoteando o rabo, estressado. Será que você veio para me mostrar onde eles estão?
A borboleta fitou o gato um longo instante em silêncio. Lentamente, cresceu uma vontade de pertencer àquela criatura de sombra e luz, negra como a noite e brilhante como um espelho d’água. Suavemente, pousou sobre o nariz do gato e bateu com suas asas em seus bigodes.
O gato fechou os olhos e ronronou, o que fez a borboleta estremecer por todo o corpo, e jogar sobre o rosto do gato o azul das suas asas. Eles assim ficaram por um tempo, e quando finalmente a borboleta levantou vôo de volta à sua casa no topo do jasmineiro, ela era céu azul de um lado e noite estrelada do outro, e o gato tinha o rosto de prata azulada, e seus olhos negros tinham ficado azuis.
Ambos partiram daquele encontro em busca de seus sonhos, renovados.
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