Archive for novembro, 2015
-
Finados
Hoje é dia de lembrar, e eu estou lembrando. De mãos. Mãos. Eu não sei se muitos adultos param para pensar que tudo para a criança é muito alto, muito grande, muito largo, então ela vê as coisas em pedaços. Pelo menos, assim era comigo.Uma das minhas lembranças mais antigas era de adultos conversando enquanto eu enxergava muitas pernas, minha visão passando muito pouco da altura daqueles joelhos.
Mãos. Mãos são pequenas o suficiente para uma criança observar. Lembro das minhas queridas mãos. As mãos de minha avó, pintadinhas de idade, rezando o terço, eu deitada em seu regaço esperando o fim da reza e mais uma história de Pedro Malasartes antes de receber minha bênção e dormir. As mãos da irmã de minha avó, deformadas pelo reumatismo, mas ainda ágeis para costurar roupinhas para minhas bonecas, brincar de massinha, me chamar para enrolar rosquinhas de polvilho e fazer o doce de laranja mais gostoso que eu já provei. A eterna disponibilidade daquelas mãos.
As mãos da minha tia acendendo a lamparina diante da imagem da virgem sobre sua cômoda. Mãos de professora, girando o mimeógrafo e deixando a casa com cheiro de álcool, datilografando e me deixando datilografar em sua máquina portátil, me interessando pelas letras antes mesmo que eu aprendesse a ler. Mãos finas e muito brancas, as mãos de professora de minha tia. As mãos tão bonitas de minha mãe, sempre de unhas pintadas e tão cheirosas que o ritual de dormir da Malu-bebê incluía cheirar seus dedos, e só os seus. Nenhum outro servia.
As mãos de meu pai… muitos momentos eu olhei aquelas mãos fazendo coisas. O cigarro era seu eterno companheiro. Eu as observava fumando, dirigindo, escrevendo, limpando as peças de carne do churrasco, me ensinando a fazer pequenos consertos pela casa. A última coisa que ele fez em vida, na ambulância que o levou pela última vez ao hospital, foi me estender a mão e me soprar um beijo. Na minha alma ainda seguro firme na minha a mão do meu pai.
Mãos que me guiaram pela vida, me mostrando o que fazer e o que não fazer. Me apoiaram, me ensinaram a andar, a escrever, a fazer crochê, a costurar e a cozinhar. Principalmente mãos que me amaram. Hoje é o dia de lembrar delas, de pedir a Deus que estenda suas mãos misericordiosas em direção às minhas queridas mãos, e as mantenha na graça. Que nenhuma delas se solte, Senhor.
Posts recentes
Comentários
- Fim da Missão em
- Fim da Missão em
- Alegria Profunda em
- A Rosa e os Espinhos em
- Para um anjo que me deu um anjo, em seu aniversário em
Arquivos
- novembro 2017
- dezembro 2016
- novembro 2016
- março 2016
- janeiro 2016
- novembro 2015
- abril 2014
- outubro 2010
- setembro 2010
- abril 2010
- março 2010
- outubro 2009
- setembro 2009
- agosto 2009
- março 2009
- novembro 2008
- outubro 2008
- setembro 2008
- julho 2008
- junho 2008
- fevereiro 2008
- dezembro 2007
- novembro 2007
- outubro 2007
- setembro 2007
- agosto 2007
- julho 2007
- maio 2007
- abril 2007
- março 2007
- fevereiro 2007
- janeiro 2007
- outubro 2006
- setembro 2006
- abril 2006
- março 2006
- fevereiro 2006
- janeiro 2006
- dezembro 2005
- novembro 2005
- outubro 2005
- setembro 2005
- agosto 2005
- julho 2005
- junho 2005
- maio 2005
- abril 2005
- março 2005
- fevereiro 2005
- janeiro 2005
- dezembro 2004
- novembro 2004
- outubro 2004
- setembro 2004
- agosto 2004
- julho 2004
- junho 2004
- maio 2004
- abril 2004
- março 2004
- fevereiro 2004
- janeiro 2004
- dezembro 2003
- novembro 2003
- outubro 2003
- setembro 2003
- agosto 2003
- julho 2003
- junho 2003
- maio 2003
- abril 2003
- março 2003
- fevereiro 2003
- janeiro 2003
- dezembro 2002
- novembro 2002
- outubro 2002
- setembro 2002
- agosto 2002
Categorias
- alegria
- Alex Cabedo
- amizade
- amor
- animais
- Asas de Borboleta
- beleza
- Contadora
- contos
- dama rosas homenagem
- encantamento
- esperança
- espírito
- luta
- mãe
- minerin-candango
- Olhares
- outonos
- pai
- plantas
- saudade
- Uncategorized
- vida interior